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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

@Verdade online: Ciclismo: uma modalidade com apenas 120 atletas em todo o país

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@Verdade Online - Jornal que está a mudar Moçambique
Ciclismo: uma modalidade com apenas 120 atletas em todo o país
Feb 7th 2013, 15:38

O ciclismo é uma modalidade desportiva de corrida feita de bicicleta, cujo objectivo é chegar primeiro à meta ou, dependendo da disciplina, cumprir um determinado percurso no menor tempo possível. Surgiu na Inglaterra nos meados do século XIX, porém em Moçambique, já no século XXI, assiste a uma profunda estagnação a vários níveis.

Apesar da enorme vontade de se massificar no país, o ciclismo continua a ser uma modalidade que enfrenta vários obstáculos. Dos cerca de 23 milhões de habitantes, Moçambique tem apenas 120 atletas.

Nesta semana, o @Verdade conversou com Danilo Correia, presidente da Federação Moçambicana de Ciclismo (FMC), que abriu o livro da agremiação que dirige e falou do fraco apoio do Governo para a sua promoção, sobretudo no que aos fundos a si alocados diz respeito, assim como da questão dos direitos aduaneiros que continuam elevados para a aquisição de uma bicicleta desportiva.

 

@Verdade - o que se pode dizer da Federação Moçambicana de Ciclismo?

Danilo Correia - A federação está ainda numa fase de composição, apesar de existirmos há anos. Digo isto porque para mim uma federação passa a existir a partir do momento em que tem 11 ou mais associações. Como é sabido, existe um número mínimo fixado por lei para a formação de uma federação, que são três. E nós, neste momento, só temos exactamente três associações.

@V – Por quantas associações provinciais é composta a federação?

DC – Quando se criou a federação tínhamos apenas três, mas agora contamos com quatro associações, nomeadamente a da província de Sofala, de Nampula, da cidade e província de Maputo. Esta última vai ser oficializada no próximo dia 23, quando realizarmos a nossa assembleia-geral.

@V – O que é necessário para que haja mais associações?

DC – Tudo passa pela colaboração dos fazedores do ciclismo dentro das províncias, para que estes criem, primeiro, grupos de trabalho para o estabelecimento das respectivas associações. Como federação, o que notamos é que as provinciais têm dificuldades para se organizar, sobretudo na componente monetária.

Em Moçambique, o ciclismo é praticado como uma forma de transporte, ou seja, a bicicleta é usada, em primeiro lugar, como um veículo de transporte e, em segundo, para a recreação. Só em último caso é levada para a corrida desportiva. Um exemplo concreto disso é a província da Zambézia que, como todos sabemos, é tida como a capital da bicicleta.

Usa-se a bicicleta como o seu principal meio de transporte e não desportivo. Portanto, com a colaboração e vontade dos fazedores desta modalidade naquela região do país, nós podemos promover a prática do ciclismo como desporto.

@V – E no que diz respeito às contas, em que situação está a federação?

DC – Neste capítulo, temos dificuldades como todas as federações têm. As nossas receitas provêm das quotas dos atletas, que é um valor mínimo. Temos também o fundo que nos é disponibilizado pelo Estado através do Instituto Nacional do Desporto e do Fundo de Promoção Desportiva.

Contamos também, em forma de parceira, com o apoio do Ministério do Interior, do Comando da Polícia de Trânsito, do Ministério da Juventude e Desportos, da Associação dos Condutores de Veículos Motorizados (ACOVEMO) e de algumas empresas.

@V – Em que se baseiam as parceiras com estes patrocinadores?

DC – No caso do Ministério do Interior, do Comando da Polícia de Trânsito, do Conselho Municipal da Cidade de Maputo e da ACOVEMO, a parceria visa garantir a segurança do ciclista enquanto estiver em actividade. Visa, também, transmitir conhecimentos acerca da importância do uso das bicicletas e das respectivas regras de trânsito.

As empresas, que são os patrocinadores, ajudam-nos com recursos para organizar as corridas e para a premiação dos vencedores bem como para a compra de material desportivo. Em suma: os nossos patrocinadores arcam com as despesas de uma prova de ciclismo.

@V - Quanto custa uma corrida?

DC – Depende. Por exemplo, um circuito fechado organizado dentro da cidade de Maputo custa cerca de 25 mil meticais, um valor relativamente baixo comparado com o de um circuito longo e/ou fora da cidade capital. O campeonato nacional, por sua vez, tem outros custos e muito elevados. Chega a custar cerca de 200 mil meticais.

@V – Qual tem sido a resposta dos patrocinadores quando a federação apresenta esses valores?

DC – O ciclismo, infelizmente, ainda não é um produto vendável. As pessoas que nos apoiam são as que normalmente gostam desta modalidade desportiva e que querem ver o ciclismo num patamar elevado.

@V – Como mudar esse cenário? Como fazer com que o ciclismo seja uma modalidade de massas, à semelhança do futebol ou do basquetebol?

DC – Um conjunto de medidas. Mas posso destacar, por exemplo, a criação da cultura de ciclismo; a facilitação no acesso às bicicletas tornando-as menos caras; e a redução do custo de importação das mesmas, bem como a criação de fábricas. É necessário que se criem clubes ou os que já existem voltem a incorporar esta modalidade nas suas prioridades.

@V – Quanto é que a federação recebe do Fundo de Promoção Desportiva e qual tem sido o seu destino?

DC – Recebemos 350 mil meticais e grande parte deste valor destina-se à organização do campeonato nacional. Outra parte do valor é usada para a organização de diversas corridas.

@V – Este valor cobre as necessidades da federação?

DC – Claro que é irrisório. Mas temos de perceber que o Governo tem as suas limitações. Nós ainda somos uma federação pequena e, por mais que nos dessem mais dinheiro, continuaria a ser pouco para aquilo que são as nossas necessidades.

Mas há aqui um erro que se comete: o desporto em Moçambique não pode ser compreendido como algo que visa a alta competição. Somos um país com necessidades e, assim sendo, temos de garantir, primeiro, a unidade nacional, promover a saúde pública em segundo e, por último, promover actividades que ocupem a juventude.

@V – Significa, então, que não se pode sonhar com a alta competição neste país?

DC – Para se chegar à alta competição é necessário que se invista muito dinheiro e acho que o nosso país tem as suas prioridades. O nosso orçamento é muito pouco para investir no desporto e cabe a cada um de nós perceber isso, trabalhando dentro das capacidades.

Por exemplo: é uma ilusão dizer que nós teremos uma equipa de ciclismo a competir nos Jogos Olímpicos. Não digo que isso não possa acontecer um dia, mas temos de ser realistas, porque, caso isso aconteça, será um facto extraordinário e não fruto do trabalho que temos vindo a realizar, daí que teremos sempre poucos atletas nos Jogos Olímpicos.

@V – Por que que razão os custos de um campeonato nacional são elevados?

DC – Primeiro, é preciso perceber que o campeonato nacional junta atletas de todo o país. Em segundo, no ciclismo a federação arca com todas as despesas correntes da organização de um campeonato. Quando digo todas refiro-me à deslocação e à acomodação dos atletas.

@V – Qual foi o orçamento da federação em 2012, incluindo o que recebem do Governo?

DC – No ano passado trabalhámos com base num orçamento de 692 mil meticais, incluindo patrocínios e doações.

@V – Quantas competições são organizadas numa época pela federação?

DC – Neste ano (2013) vamos organizar 24 provas, nomeadamente: doze corridas de ciclismo de estrada mais o campeonato nacional, dez corridas de bicicletas em terra e a corrida de BMX, esta última que ainda é um projecto.

@V – Qual é o custo total dessas competições?

DC – Cerca de 750 mil meticais, valor que supera o do ano passado, em que, sem a corrida de BMX, gastámos 692 mil.

@V – A que nível estamos em termos de participação em eventos internacionais?

DC – Neste momento estamos a revitalizar a nossa selecção nacional de ciclismo de estrada. Tivemos uma selecção de seis atletas aquando dos Jogos Africanos de 2011 e deste número, ficaram apenas três.

Os outros atingiram a idade adulta e já não estão em condições de competir ao mais alto nível. Precisamos de encontrar mais quatro atletas e, para tal, estabelecemos parceria com uma academia de ciclismo da África do Sul para a formação de jovens promessas das associações do país.

@V – Quais são os projectos da federação?

DC – Neste ano, para além de estabelecer mais associações provinciais, queremos criar um parque de ciclismo na cidade da Matola para a prática do BMX, disciplina que mais atrai os jovens dos 12 aos 16 anos. Para além disso, queremos montar no mesmo local uma pista de corrida de bicicletas terra a terra (BTT). Já nos próximos anos vamos replicar estes projectos nas províncias.

@V – Onde funciona a sede da Federação Moçambicana de Ciclismo?

DC – Nós não temos infra-estruturas. Os nossos escritórios funcionam em casa do nosso vice-presidente. Mas projectamos a construção da sede na cidade da Matola. Para as provas continuamos a usar as avenidas da cidade de Maputo para as disciplinas de estrada e as ruas dos subúrbios para a disciplina de BTT.

@V – Por quantas disciplinas é composto o ciclismo?

DC – O ciclismo é uma modalidade desportiva composta por várias disciplinas. Tem como disciplina rainha a de estrada, curiosamente, a mais praticada; depois segue- -se a BTT, a mais popular; e a BMX e a Indoor, esta última que é praticada nos Jogos Olímpicos.

@V – E quais são as praticadas em Moçambique?

DC – Nós praticamos o circuito de estrada e a BTT. Mas também praticamos uma disciplina que não mencionei, o ciclismo radical, que pressupõe escalar montanhas.

@V – Durante as competições têm sido registados conflitos entre os ciclistas e os automobilistas. Ainda prevalecem?

DC – Esses conflitos mantêm-se, sobretudo nos períodos de treino. Continuamos a testemunhar incidentes entre os automobilistas e os ciclistas, apesar do intenso trabalho que temos vindo a realizar para acabar com estas situações. Temos contado com um apoio relevante da Polícia de Trânsito e do Conselho Municipal neste aspecto.

Tenho, como exemplo, um ciclista nosso, curiosamente, em vida candidato a presidente da federação, que morreu nestas circunstâncias. O automobilista condutor foi detido, julgado e condenado, estando neste momento a cumprir a pena.

@V – Para quando o fim destes incidentes?

DC – Entendemos que no centro da cidade de Maputo o fluxo de trânsito continua a aumentar e estamos a trabalhar em parceira com a polícia no sentido de garantir a segurança dos nossos ciclistas. Mas ficámos bastante satisfeitos quando soubemos que o município vai edificar uma ciclovia de 16 quilómetros ao longo da avenida da Marginal, inserido no projecto da Estrada Circular de Maputo. Isto sem contar com o projecto a que me referi, o de criar um parque de ciclismo na cidade da Matola.

@V – Qual é o número oficial de ciclistas desportivos em Moçambique?

DC – Temos um total de 120 atletas. Este número deve-se ao facto de neste país não existir esta cultura de transformar o ciclismo em desporto. Mas também há o caso de custos do próprio ciclismo, relativamente à aquisição da bicicleta.

@V – Quanto custa uma bicicleta?

DC – Os preços variam. Mas uma bicicleta normal custa entre 6 e 15 mil meticais, e uma desportiva, diga-se, pronta para competir, custa até 180 mil meticais. Se for a reparar, este valores são elevados para a economia nacional, o que faz com que esta modalidade não seja para todos.

Mas o esforço da federação, com os poucos recursos que tem ao seu dispor, é de promover o ciclismo para o escalão menos favorecido. Posso citar como exemplo as 15 bicicletas que recebemos da Federação Internacional de Ciclismo. Todas elas foram entregues aos atletas sem condições, mas que praticam esta modalidade.

@V – De que realizações se orgulha desde que assumiu a presidência da federação?

DC – Não se pode entender como obras do Danilo Correia. É o trabalho do elenco directivo da Federação Moçambicana de Ciclismo. Mas de tudo quanto realizámos, o que mais me tocou foi a organização do Campeonato Africano de Ciclismo em 2011 e a realização da primeira época sólida de ciclismo no ano passado.

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