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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Rui Chong Saw aposta na água para mais um mandato em Nacala

Foto de Adérito CaldeiraHá cerca de 3 anos Rui Chong Saw foi eleito presidente do município de Nacala com a promessa de resolver o eterno problema de acesso a água potável canalizada que, em 2013, chegava a apenas 18% dos mais de 250 mil munícipes.“Estamos em 25% fornecimento de água para a população e vamos subir para 70% até ao próximo ano”, revelou o edil ao @Verdade e ainda manifestou a sua vontade de ficar pelo menos mais um mandato no cargo. Entretanto, uma reflexão de académicos do IESE concluiu que na cidade portuária, “a negociação e a captura das acções dos actores privados permitiram ao partido-Estado não só expandir os serviços de água às populações dos diferentes bairros da cidade de Nacala mas também expandir a sua dominação sobre uma população que lhe é historicamente hostil”.

O drama da falta de água em Nacala data dos primórdios da sua existência, nos anos 50. A chegada ao poder de Manuel dos Santos, do partido Renamo em 2003, levou o partido Frelimo a usar o acesso a água como “arma” política.

“As acções de «caridade» dos empresários locais ligados à Frelimo, nomeadamente Gulamo Moti e Gulamo Rassul, que ofereciam água às populações de Nacala, sobretudo nas vésperas dos períodos eleitorais, intensificaram-se em 2008 e atingiram o seu apogeu em 2012 com a entrada em cena política do empresário local de sucesso Rui Chong Saw, proprietário de uma frota de camiões, que desde 2011 possui um contrato permanente com o Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN). Este empresário viria a tornar-se candidato da Frelimo nas eleições locais de 2013. Durante a campanha eleitoral, Rui Chong Saw havia prometido que, caso fosse eleito, uma das prioridades seria a solução da problemática da escassez de água de que enfermam os bairros de Nacala Porto”, constata a reflexão do Instituto de Estudos Sociais e Económicos(IESE) inserida na publicação “Desafios para Moçambique 2015”.

“Ao distribuir água à população em nome do partido Estado-Frelimo, os empresários Gulamo Moti, Gulamo Ussene e Rui Saw contribuíam não só para ajudar este partido a chegar e a consolidar o seu poder de dominação sobre a população local como usavam também essas alianças políticas com as elites da Frelimo, local e centralmente estabelecidas, para penetrarem em áreas estratégicas e assegurar o controlo do porto de Nacala, umas das instituições mais fortes do Estado ao nível regional. O privilégio oferecido a estes empresários na utilização do porto permitiu- lhes fazer contrabando de mercadorias importantes”, acrescenta o artigo assinado Domingos M. Rosário e Egídio P. Guambe, pelos investigadores do IESE.

Foto de Adérito CaldeiraOs académicos moçambicanos concluíram que, “No caso específico de Nacala Porto, vimos como é que numa era de neoliberalismo, caracterizada por uma pluralidade e complexidade de actores, e numa situação de falta de separação clara entre partido e Estado, a negociação e a captura das acções dos actores privados permitiram ao partido-Estado não só expandir os serviços de água às populações dos diferentes bairros da cidade de Nacala Porto mas também expandir a sua dominação sobre uma população que lhe é historicamente hostil”.

Entretanto, alguns meses após Rui Chong Saw chegar ao poder, foi reinaugurada a barragem de Nacala, reconstruída com fundos norte-americanos, mas passados 3 anos, continua a não fornecer água potável a todos os munícipes. “Da barragem nova falta a tubagem de transportes e a maquinaria, a água recebemos com deficiência através da tubagem antiga” explicou ao @Verdade o edil.

Todavia Chong Saw considera que “a situação melhorou um pouco, mas vai melhorar mais a partir do próximo ano porque estamos a substituir a tubagem obsoleta, cerca de 80 quilómetros, e a incrementar 30 quilómetros de tubagem nova. Estamos em 25% fornecimento de água para a população vamos subir para 70% até o próximo ano”.

Actualmente existem cerca de 10 mil ligações domésticas de água canalizada num município onde residem mais de 250 mil moçambicanos. “Para os bairros mais carenciados, onde não passa a tubagem estamos a pôr fontanários móveis, levamos com camião duas vezes por semana e isso tem ajudado a diminuir o sofrimento da nossa população”, ajuntou o presidente do município de Nacala Porto.

“Estou bem aqui, o mandato deveria ser de dez anos”

ArquivoMas o maior drama deste município da província de Nampula, situado a 150 metros do nível do mar, é a erosão. “(...) Se a cidade desaparecer vai mexer com a economia nacional e mundial porque é aqui onde entram e saem as mercadorias, somos a 21ª cidade no mundo com problemas de erosão”, declarou o edil que no entanto reconheceu que o seu município não tem os mais de 36 milhões de dólares norte-americanos orçamentados no plano de combate a Erosão que deveria ter arrancado em 2015.

De acordo com o plano a erosão em Nacala mantém-se constante devido a “disposição do relevo/orografia declivoso, o que permite o escoamento das águas fluviais com maior velocidade afectando deste modo a superfície dos solos; tipo de solo, que são caracterizados por alta sensibilidade para erosão (areia fina) com grandes inclinações; assentamentos informais que deixam a nu a cobertura vegetal o que influencia na velocidade das águas das chuvas provocando deste modo ravinas e erosão no geral”.

O Orçamento de Estado para 2017 também não prevê fundos para o combate a erosão e nem mesmo está incluído nos projectos prioritários do recém aprovado Projecto das Estratégias de Desenvolvimento Económico do Corredor(PEDEC) de Nacala.

“Estou quase a dois anos e meio na governação, o tempo não foi suficiente para fazer tudo mas já estou a entrar nos carris”, declarou Rui Chong Saw que revelou estar em curso um processo para mudar a categoria do município de C para B, o que permitirá receber mais fundos do Governo, e ainda afirmou estar disponível para um segundo mandato, “(...)estou bem aqui, o mandato deveria ser de dez anos, mas depende do meu partido”.



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