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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Sociedade civil em frenética busca pela paz e ensaia como reunir Nyusi e Dhlakama com o povo

As organizações da sociedade civil que compõem o Painel de Monitoria do Diálogo Político pela Paz, mas sem qualquer representação nas conversações em curso em Maputo, planeiam juntar as lideranças do Governo, da Renamo e o povo numa “conferência nacional sobre paz, reconciliação e desenvolvimento”, com vista a tentar convencer as partes em conflito a selarem um acordo que cale definitivamente as armas e assegure o perdão entre os moçambicanos.

Salomão Muchanga, presidente do Parlamento Juvenil (PJ), que hospedada o painel acima indicado, disse que o país “precisa de uma paz sincera, urgente e sustentável”.

“Basta de diálogo excludente”, promovido pelo Executivo e pelo maior partido da oposição.

O líder daquele organismo juvenil referiu-se nesses termos pelo facto de o Governo e a Renamo terem aceite, no princípio, a monitoria do diálogo político pela sociedade civil, mas tal ainda não se concretizou.

Os encontros, sob a mediação de figuras internacionais renomadas e consideradas capazes de trazer consensos e paz de que os moçambicanos estão despojados há anos, não registam nada de realce.

Salomão Muchanga lembrou-se que as anteriores e longas reuniões entre a partes desavindas, no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, só “produziram uma paz intermitente”.

O antigo Presidente da República, Armando Guebuza, e o líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, apertaram as mãos, abraçaram-se e rasgaram sorrisos para nada. Mais tarde, o Acordo sobre a Cessão das Hostilidades Militares, transformado em Lei, se revelou uma fracasso.

Por conseguinte, anotou o presidente do PJ, a pobreza que flagela população das zonas de conflito, em particular, agravou-se.

Esta situação, segundo Salomão Muchanga, é por si só bastante para que o Presidente da República, Filipe Nyusi, e Afonso Dhlakama, “sejam chamados à razão e consciência”.

Muchanga mostrou-se ainda céptico em relação ao alcance da paz nas negociações em curso, conduzidas pelos mediadores internacionais, escolhidos a dedo pelas partes em desacordo no que diz respeito à governação do país.

Por sua vez, Roberto Tibana, representante do Painel de Monitoria do Diálogo Político pela Paz, disse que nos encontros que realizados um pouco por todo o país os cidadãos defendem a cessão incondicional das hostilidades militares.

O economista voltou a sublinhar que o objectivo das referidas reuniões não é criar protagonismos, nem “tirar lugar aos negociadores”. O que a sociedade civil pretende é monitorar as discussões na mesa do diálogo.

Para Tibana, não basta que o Governo e a Renamo cheguem somente um acordo de paz, “perdão e reconciliação”. É preciso, acima de tudo, que o mesmo pacto tenha “garantias internacionais”.

Tibana defendeu que igualmente a necessidade de se definir princípios para a gestão das Forças Armadas, de modo que elas defendam os interesses do país e não partidários. "Parar com a guerra deve ser uma prioridade e este é um sentimento unânime por onde andamos. Os moçambicanos querem a responsabilização das pessoas envolvidas" na guerra e no escândalo das dívidas ocultas.

“Os mediadores devem ouvir a sociedade civil para se discutir um novo paradigma” que permita acabar com a guerra em Moçambique. Aliás, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Armando Guebuza precisou que a tensão político-militar, supostamente “protagonizada pela Renamo”, começou entre 2011/2012.

Já Alice Mabota, presidente da Liga dos Direitos Humanos (LDH), considerou que aqueles que promovem a guerra em Moçambique, mais tarde serão julgados pelos seus actos. Ela considerou impudente a justificação de Guebuza, segundo a qual as dívidas contraídas sigilosamente visavam, por exemplo, reforçar o sector de segurança através de Proindicus, SA, face às ameaças impostas pelo maior partido da oposição.

Na óptica de Alice Mabota nenhum governo compra armamento para combater o próprio concidadão [referia-se à Renamo]. A chefe daquela agremiação anotou que é um insulto que Guebuza tenha dito que “(...) se tivéssemos que estar nas mesmas condições e para tomar as mesmas decisões, considerando o circunstancialismo descrito naquele momento, nós faríamos justamente da mesma maneira hoje (...)”.

Os pronunciamentos foram feitos na terça-feira (13), na capital do país, numa “Sessão de Apresentação Pública da Proposta de Conferência Nacional sobre Paz, Reconciliação e Desenvolvimento”.

O Estúdio 222, no Cine-Teatro Gilberto Mendes, abarrotou de gente, na sua maioria jovem. Contudo, muitos actores políticos mandaram passear o evento, excepto José Manteiga, membro da comissão mista pela “Perdiz”, no diálogo político.



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