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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Em vez de apoiar camponeses EUA destina milhões de dólares para consultorias e estudos em ...

Foto cedida pela USAID Mozambique “Só transpirando é que se produz a riqueza”, profetizou Rajendra de Sousa, o vice-ministro da Indústria e Comércio, nesta terça-feira(13), durante o lançamento de um projecto do Governo dos Estados Unidos da América, orçado em 37,2 milhões de dólares para o crescimento económico de Moçambique. Contudo, o governante esclareceu que “o objectivo não é pegar no dólar e fazer chegar ao camponês, mas é criar condições para que o camponês sinta o efeito”. A verdade é que grande parte do dinheiro não chegará aos moçambicanos que realmente suam e precisam de apoio, será gasto em consultorias, estudos e formações no conforto de Maputo.

O projecto é denominado “SPEED Mais” e tem o nobre objectivo de “apoiar o Governo de Moçambique na implementação de políticas e estratégias que visem a melhoria do ambiente de negócios e o crescimento económico baseado no investimento privado, estruturado em quatro componentes: (1) agricultura, (2) comércio, ambiente propício às empresas, (3) energia, água e (4) conservação da biodiversidade”.

“Moçambique tem muitos recursos mas outros países tem os mesmos recursos, então este País precisa de criar condições para atrair o investimento estrangeiro e para ajudar as empresas locais” disse à margem do evento de lançamento Dean Pittman, o Embaixador dos EUA, clarificando que este projecto é a continuidade do “SPEED”, iniciado em 2010, e que “(...)o que nós queremos fazer é ajudar o povo moçambicano, ao Governo moçambicano a criar as condições para atrair empresas para crescer a economia deste País”.

Instado a precisar de que forma o apoio iria chegar aos moçambicanos mais pobres e desempregados Pittman declarou que “primeiro temos que trazer peritos para investigar a situação, para ver quais são as regras que o País precisa e as que precisa de mudar”.

Objectivo do “SPEED Mais” não é pegar no dólar e fazer chegar ao camponês

Em termos práticos, e contrariamente ao discurso do ministro Ragendra, que dissera minutos antes que “(...)a riqueza não se faz nos salões de café, a riqueza não se faz em seminários, a riqueza faz-se com trabalho abnegado, com trabalho honesto, trabalho justo. Só transpirando é que se produz a riqueza”, o apoio dos EUA, através da sua Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID), quase não sairá das salas climatizadas da capital do País.

Foto cedida pela USAID MozambiqueOs 37,2 milhões de dólares foram entregues a um consórcio de empresas de consultoria: as norte-americanas Development Alternatives Inc. (DAI) e Nathan Associates Inc.; e as moçambicanas SAL Consultoria e Investimentos, Lda, Cimpogest e Impacto. Para realizar os estudos e formações, regra geral as empresas de consultoria absorvem 20% a 40% dos orçamentos que apresentam em custos administrativos. Valor significativo deverá ficar também na mãos dos “peritos” estrangeiros e nacionais, portanto nem novos postos de trabalho este projecto milionário deverá criar.

Confrontado com esta realidade o o vice-ministro da Indústria e Comércio explicou ao @Verdade que nem todo o dinheiro será despendido em estudos. “Há o estudo normal que estamos habituados de depois apresentar um relatório mas depois tem acções de formação com o empresariado. Formação consome recursos. Os fundos vão ser gastos de forma equilibrada, em que o saber para decisão é algo muito importante. Decisões feitas com base em empirismo, sensibilidade, já ouvi dizer não podem ser critérios de governação”, afirmou Ragendra de Sousa.

Questionado como então o projecto iria apoiar por exemplo os camponeses, que representam o maior sector laboral em Moçambique e são aqueles que precisam de apoio para melhorar a produção de alimentos que o nosso País importa, o governante reconheceu que “o objectivo não é pegar no dólar e fazer chegar ao camponês, mas é criar condições para que o camponês sinta o efeito”.

“Uma área que o projecto há-de se preocupar é comércio rural, falamos há 40 anos de comércio rural, nós precisamos de evidência como é que o fluxo campo e cidade esta-se a processar. Eu por sensibilidade e tempo de trabalho não tenho qualquer problema em afirmar que o nosso comércio é extractivo. Sendo extractivo ele não passa a renda ao mais necessitado, agora estes estudos têm que nos dar evidências para que concentremos a acção do Governo na reabilitação e montagem do comércio rural”, apresentou como exemplo do potencial do projecto o ministro Ragendra de Sousa.

“Vivemos de cinto apertado numa economia que rapidamente nos traria o PIB per capita acima dos 4 mil dólares”

Debruçando-se sobre o potencial da economia moçambicana, que atravessa a pior crise dos últimos 15 anos, o vice-ministro da Indústria e Comércio lançou um desafio aos economistas para em vez de olharem para o Produto Interno Bruto(PIB) do nosso País em termos absolutos, que ronda os 500 dólares norte-americanos, calcularem-no em stock, “somando reservas de Pemba mais carvão de Moatize e a reserva de Pande, ficarão surpreendidos que vivemos de cinto apertado numa economia que rapidamente nos traria o PIB per capita acima dos 4 mil dólares”.

O @Verdade perguntou ao ministro se o seu desafio não tiraria o foco dos moçambicanos dos sectores apontados como prioritários pelo Governo do qual é membro - Agricultura, Energia e Turismo – e ficaríamos todos a pensar que somos ricos por causa do carvão e gás e continuaríamos a tentar viver de rendas, como tentaram com pouco sucesso muitos nacionais em Tete. “E pensar que somos pobres também é mau, o pensar equilibrado é o que se espera de todos”, ripostou Ragendra de Sousa.

“Estar a dizer que Moçambique não é atractivo, o stock o que é que é? São os recursos que o País detém, o carvão de Tete não vai emigrar, o stock de carvão provoca investidores a quererem tirar oportunidade. O gás de Pemba não vai emigrar, conhecido o stock e dizendo que nós temos um bilião de metros cúbicos de gás então os empresários do sector energético, os empresários da logística apercebem que estão com uma oportunidade. Sabendo o stock eu posso calcular quantos comboios eu preciso, sem saber o stock o carvão todo muito tem, o problema é saber onde ele está e nós já sabemos. O cálculo do stock é preciso não ter vergonha de o dizer, é nosso, então o que precisamos todos é de nos preparar para fazer a extracção correcta e o uso correcto”, aclarou o ministro que diz não ter deixado a veia académica apenas porque está no Governo.



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