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segunda-feira, 24 de abril de 2017

Chissano foi último Presidente a participar nas Cerimónias centrais do 1º de Maio em Moçambique

Foto de Adérito CaldeiraRemonta a 2004 a última vez que um Chefe de Estado moçambicano, Joaquim Chissano na altura, presenciou in loco uma cerimónia central do 1º de Maio. “No tempo em que eles estavam connosco comungávamos as mesmas ideias, agora eles pensam de uma maneira diferente” disse António Munguambe, o secretário-geral da Organização dos Trabalhadores de Moçambique (OTM), durante a exortação do lançamento da semana comemorativa da efeméride que se assinala na próxima segunda-feira, e afirmou que o Governo deixou de participar, “porque não queriam ouvir algumas verdades”. Será que o Presidente Filipe Nyusi, que se auto proclama empregado do povo, vai quebrar a tradição e enfrentar os seus patrões?

Diante dos míseros aumentos salariais decretados pelo Executivo de Nyusi na semana finda, aliado ao emprego cada vez mais precário, os moçambicanos têm cada vez menos motivos para celebrar o Dia do Trabalhador por isso, “os trabalhadores sairão à rua no dia 1 de Maio e através de manifestações pacíficas, para exteriorizarem o seu não ao custo de vida insustentável, o seu não ao emprego precário e sem direitos”, declarou Munguambe.

“É dia da reafirmação da unidade e solidariedade na luta comum dos trabalhadores pela paz efectiva, harmonia e diálogo como condição para a construção e desenvolvimento do País” exortou ainda o SG da OTM Central Sindical enfatizando que os trabalhadores moçambicanos não estão satisfeitos as recentes negociações dos salários mínimos, cujos aumentos estão bastante abaixo da inflação.

Todavia, e apesar de toda insatisfação dos trabalhadores que no último ano só agravou-se, Organização dos Trabalhadores está cada vez mais longe de representar os moçambicanos e as suas posições mostram que continua atrelada ao partido no Poder, afinal foi criada por decisão do IV Congresso do Partido Frelimo, em 1983.

Questionado pelo @Verdade que se a OTM equaciona algum tipo de luta por melhores condições para os trabalhadores, que não seja o carnavalesco desfile do 1º de Maio, António Munguambe declarou que “Caso a caso os trabalhadores vão decidir como fazer nas empresas, nos sectores. Promovendo greves, que é um direito constitucional que nos assiste como trabalhadores”.

“Alguns trabalhadores quando chegarem a conclusão de que as suas empresas produzem o suficiente para pagarem melhor do estão sendo pagos agora podem legalmente convocar greves para exigir e pressionar as empresas para que paguem aquilo que eles merecem”, porém o líder sindical alertou “que é preciso manter os poucos empregos que as empresas têm neste momento, não podemos correr para aumentarmos salários e perdermos postos de trabalho”.

A outra pergunta do @Verdade, sobre a possibilidade de rever o salário mínimo mais do que uma vez por ano caso a inflação atinja os dois dígitos, como tem sido o caso desde o início de 2016, Munguambe declarou que a reivindicação foi apresentada em sede da Comissão Consultiva de Trabalho, “nós metemos esse requerimento a dizer que a manter-se a situação como está temos que rever a periodicidade da revisão dos salários”. No entanto não soube precisar se a chamada Concertação Social voltará a debater a revisão dos salários mínimos ao longo deste ano.

Governo deixou de participar no 1º de Maio porque não queria “ouvir algumas verdades”

Há 13 anos que um Presidente de Moçambique não se digna a comparecer às cerimónias centrais do Dia do Trabalhador. Desde a alguns anos nem sequer os membros do Governo Central ocupam o lugar que lhes é destinado na praça dos Trabalhadores.

“Nós convidamos o Governo, se entender aparecer que venha. Se não vier nós não temos problemas”, começou por esclarecer Munguambe referindo no entanto que o ideal era “que eles estivessem lá se comungássemos as mesmas ideias, não comungam as mesmas ideias connosco é por isso que não estão lá. No tempo em que eles estavam connosco e comungávamos as mesmas ideias estavam connosco, agora eles pensam de uma maneira diferente. Deixaram de participar, porque não queriam ouvir algumas verdades”.

Entretanto o Presidente Filipe Jacinto Nyusi, que se auto-proclama empregado dos moçambicanos, tem afirmado que a única forma dos trabalhadores verem os seus míseros salários a crescer é aumentando a produção.

“Nós como sindicalistas reconhecemos que há trabalhadores que estão a trabalhar no seu máximo, que produzem o suficiente e até deviam ser remunerados melhor”, explicou o SG da OTM acrescentando que “também reconhecemos que há uma parte que tem de trabalhar um pouco mais, não trabalho físico como tal mas um trabalho intelectual, um trabalho de investigação que tem que ser feito, um trabalho que permita aumentar a produção e a produtividade em vários sectores”.

“Podemos citar o caso da agricultura onde há situações em que a produtividade pode aumentar por hectare. Mas isso não é da responsabilidade exclusiva do trabalhador, porque há pessoas que pensam que quando falamos em aumentar a produção e a produtividade estamos a falar de trabalhadores só, estamos a falar de todos incluindo dos próprios empregadores que tem a a responsabilidade de ter uma cultura de rentabilização das suas empresas”, concluiu António Munguambe.



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